segunda-feira, 21 de março de 2016

SE VOCÊ NÃO SE SENTE BEM EM UMA RELAÇÃO VOCÊ PODE ESTAR PRESA (O) EM UMA ARMADILHA: NOTAS SOBRE UMA RELAÇÃO ABUSIVA


Por Rebeca Porto

Em celebração ao dia internacional das mulheres, fui convidada para participar de uma roda de conversa sobre relações abusivas, na Universidade de Pernambuco- Petrolina. Esse texto é uma síntese do que foi debatido. O objetivo da publicação dele é, em primeiro lugar, trazer uma reflexão sobre as relações, principalmente as relações abusivas. Em segundo lugar, trazer um pouco, muito pouco, de como o psicólogo pode ajudar uma pessoa a sair de uma relação abusiva. Muito pouco, visto que a atuação do psicólogo é altamente complexa e cada relação é uma relação, cada caso é um caso.
Para tentar cumprir esses objetivos, os questionamentos estão divididos em três tópicos: Definição de uma relação abusiva; Como começa e como se perpetua uma relação abusiva; como um Psicólogo pode ajudar uma pessoa a sair de uma relação abusiva.
Então, vamos nessa...
1ª O que é uma relação abusiva?
Antes de definir uma relação abusiva, acredito que se faz necessário definir o que seja uma relação. Parafraseando Pedrinho Guareschi, relação é aquela coisa que todo mundo sabe exemplificar, mas ninguém sabe definir. Pois bem, em 1996 o autor definiu relação como uma coisa, que não pode existir sem que haja outra coisa (Guareschi, 1996). Por exemplo, uma mãe só existe se há um filho e vice-versa, constituindo-se assim, uma relação parental. Uma namorada/esposa só existe a partir do momento em que há um namorado/esposo e vice-versa.
Existes diversos modos de se relacionar, sendo que estas relações podem ser simétricas, assimétricas ou ajustáveis (simétricas e assimétricas). Simetria tem a ver com regularidade, ou seja, em uma relação simétrica os relacionados vivem em pé de igualdade de direitos. Por exemplo, em uma sociedade empresarial, os sócios tendem a ter os mesmos direitos, nenhum deles manda no outro. Já em uma relação assimétrica, uma das partes estabelece uma relação de poder com outra, na qual uma manda e a outra obedece, a exemplo da relação patrão-empregado. Na relação ajustável há um deslocamento simétrico, ora ela é simétrica, ora ela é assimétrica. Não no sentido de uma pessoa mandar na outra, mas no sentido de “ceder” em algumas questões, em alguns momentos. E em se tratando de uma relação amorosa, é quando a relação se torna apenas assimétrica que o abuso pode ser constatado.
2ª Como começa e como se perpetua uma relação abusiva?
Seria muito irresponsável afirmar que uma relação se tornou abusiva neste ou naquele momento, até mesmo porque cada caso é um caso, cada relação é uma relação. Uma relação não começa a ser abusiva da noite para o dia; há elementos na relação que a vão tornando abusiva, de forma muito sutil, tão sutil que, em muitas vezes os pares não se percebem em uma relação abusiva. Nesse sentido, então como identificar que uma relação é abusiva? Isso não é nem um pouco simples, principalmente se ela for uma forma de abuso muito sutil, mas se você não está se sentindo bem na relação, é possível que ela esteja sendo, de alguma forma, abusiva.
3°ª Como o Psicólogo pode ajudar a mulher sair de uma relação abusiva?
Em primeiro lugar, nem toda mulher/homem que vive em uma relação abusiva sabe disso. Muitas vezes chegam a clínica com outras queixas, mas o psicólogo entende que aquela pode ser uma situação de abuso. Sendo assim, o primeiro passo é ensinar a essa pessoa a identificar a situação de abuso. Mas não vá pensando que o psicólogo vai chegar e falar: “Ei Maria, isso é uma relação abusiva...”. Muito provavelmente a queixa será entorno desse abuso, então o profissional ajudará a cliente identificar, dentro da sua queixa, esse abuso. Entendida a relação, o abuso e as consequências que mantem essa relação abusiva, o psicólogo poderá “ensinar” a esse cliente a identificar o que tem mantido essa relação abusiva, bem como “ensiná-la” uma nova forma de se relacionar, criando juntos, terapeuta e cliente, estratégias para melhor a qualidade de vida do cliente.
Concluindo, as relações em si, estendendo-se as relações abusivas, são fenômenos altamente complexos, que não são possíveis de serem desvelados em um post ou em uma roda de conversa. No entanto, espero que essa leitura sirva ao menos como um norte para que novas discussões acerca dessa temática sejam levantadas, e principalmente que nós aprendamos a avaliar nossas relações diárias, revendo nossas relações abusivas e qual nosso papel nessas relações.
REFERÊNCIA
Guareschi, P. A. (1996). Relações comunitárias–relações de dominação. Psicologia Social Comunitária: da solidariedade à autonomia, 7.

Sobre a autora: Rebeca Cruz Porto é  Psicóloga (CRP: 02/18624) e atende na Harmonie Espaço Psicoterapêutico. É mestranda em Psicologia pela Universidade Federal do Vale do São Francisco e membro do Grupo de Pesquisa em Psicometria e Psicologia do Esporte. 
Contato: rebeca.c.porto@hotmail.com

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