segunda-feira, 28 de março de 2016

VESTIBULAR E ANSIEDADE: PARCEIROS INSEPARÁVEIS?


Por Rebeca Porto

Essa é Victória... Victória terminou o terceiro ano e está no cursinho pré-vestibular. Nos últimos tempos ela tem se sentido muito pressionada, pois é uma adolescente, mas já é quase adulta, logo... logo ela tem que decidir um curso para prestar vestibular, um sistema altamente competitivo, no qual ela tem que estudar e fazer uma prova, concorrendo com muitas outras pessoas, na mesma situação que ela, por uma vaga na faculdade, para continuar estudando. Victória acha que quer ser Psicóloga, mas seu pai não gosta muito da ideia e fica “colocado gosto ruim”, a mãe não opina... Mas ela sente a pressão da família, dos amigos, da sociedade, para ser aprovada no vestibular... Ela se sente insegura, afinal, é uma vaga para muitos e ela tem que se impor ao pai para fazer o curso que quer.
A prevalência da ansiedade em adolescentes, pré-vestibulandos e/ou vestibulandos é mais comum do que muita gente acredita (infelizmente, principalmente muitos pais), dessa forma, esse fenômeno passa desapercebido tanto pelos pais como pela escola/cursinho e leva o próprio adolescente a desvalorizar o que está sentindo. O que é muito preocupante, pois gera sofrimento e afeta a autoimagem do adolescente e a crença nele mesmo. Mas porque isso acontece? Porque os adolescentes ficam tão ansiosos nessa etapa da vida?         
São muitos os fatores que levam a isso, e considerando que cada pessoa reage de uma forma a determinada situação, vamos ver algumas possíveis situações, as mais comuns são: a transição da adolescência para a vida adulta; a submissão a um sistema competitivo; a pressão para uma escolha profissional; as expectativas e cobranças familiares; a insegurança quanto a sua capacidade de ser aprovado; reprovações anteriores, no caso de quem já prestou vestibular em outras ocasiões; dentre outras...
Mas será que eu estou ansioso? Quais são os sinais de ansiedade e como reconhecê-los?
É importante colocar aqui, que a ansiedade é uma reação natural do nosso corpo por achar que há perigo ou riscos em situações futuras e imprevisíveis, alguns dos sintomas mais comuns são: dificuldade de concentração (sentir-se muito disperso, sem conseguir focar em algo), inquietação (estado de agitação, no qual o adolescente não consegue parar quieto, fica mexendo os pés, balançando as pernas...), dor de cabeça; dor muscular; tonturas; palpitações no coração; pensamentos negativos (“Vou ser reprovado”); pensamento acelerado; sensação de calor (quando não está fazendo calor); e indigestão.
Mas, peraí... Se a ansiedade é uma reação natural, qual o problema?
A apresentação de sintomas de ansiedade em si, não é, necessariamente um problema. Como muitas coisas na vida o problema está na falta ou no excesso. No caso da ansiedade o problema é o excesso de sintomas e sua frequência, que pode se configurar como um transtorno de ansiedade. Mas como diferenciar a ansiedade “normal” para um transtorno de ansiedade? Essa identificação não é uma coisa fácil de se fazer, principalmente porque as pessoas reagem de forma diferente a situações semelhantes. A identificação aqui deverá ser feita por um profissional capacitado, o que você pode e deve fazer é identificar o momento de recorrer a um profissional. A questão é... Quando procurar um profissional? Isso é um pouco mais simples de ser respondido. Você deve procurar um profissional quando uma determinada situação estiver interferindo na sua rotina constantemente, o impedindo de realizar tarefas de rotina e você não consegue solucionar o problema sozinho, nem com a ajuda da família e/ou amigos. Por exemplo, só de pensar em estudar, você já começa a suar, sentir palpitações, andar de um lado para o outro, perder o sono por isso; ou quando pega no livro/apostila para estudar, não consegue se concentrar na leitura, tem pensamentos acelerados, já pensando na próxima matéria que tem que ler; ou ainda quando sua vida social ficar comprometida, você deixar de sair com seus amigos ou namorado (a), porque quando sai se sente culpado por estar “perdendo tempo de estudo”.  
Entretanto, se você já se conhece um pouco, e sabe que em situações semelhantes, de pressão, de escolha, de decisão, você quase sempre fica muito ansioso (a), é aconselhável a procura do profissional para uma intervenção preventiva. O que é isso? Prevenir é tomar uma atitude que antecede um provável malefício... Por exemplo, a camisinha é uma medida preventiva, utilizada pelas pessoas afim de evitar uma gravidez indesejada ou uma doença sexualmente transmissível. No caso de uma ajuda preventiva para a ansiedade, o profissional o ajudará a encontrar estratégias para vivenciar esse momento de vestibular de forma não prejudicial, a fim de reduzir os possíveis sinais de ansiedade, antes mesmo deles se manifestarem.  
Qual profissional eu devo procurar e como ele vai me ajudar?
O Psicólogo é um profissional habilitado para lidar com transtornos emocionais e comportamentais, sendo assim capacitado para ajudar uma pessoa com transtorno de ansiedade. Mas como? Essa é a grande questão! Como já falamos anteriormente, as pessoas reagem de formas diferentes a situações semelhantes e diferentes e isso acontece por conta de fatores genéticos, da história de vida de cada pessoa e pela influência dos ambientes que frequenta, sendo assim, não é possível dizer aqui que o psicólogo vai fazer isso e aquilo, isso seria antiético e enganoso. Mas em termos gerais, o Psicólogo irá junto com o cliente, identificar os sintomas, sua frequência, possíveis fatores desencadeantes dos sintomas e a partir de uma avaliação geral do quadro, propor intervenções adequadas, a fim de reduzir e fazer cessar esses sintomas, de modo que você, cliente, adquira a habilidade para lidar com situações que gerem ansiedade e estresse. Contudo, é valido salientar aqui, que esse não é um processo que acontece da noite para o dia, os sintomas de ansiedade foram se desenvolvendo e evoluindo durante toda a sua vida, eles não surgiram de forma grave, logo, também não cessarão de uma hora para outra. O jeito é ir “devagar e sempre”. E lembre-se, saber lidar com a ansiedade e o estresse é apontado em alguns estudos como tão importante quanto o conhecimento, uma vez que, se você tem conhecimento, mas está estressando e ansioso não consegue estudar, nem fazer uma boa prova.
DICA: A ansiedade pode estar relacionada com a sua falta de organização e planejamento para os estudos. Na escola, há um conteúdo programático, com atividades e provas frequentes, há uma cobrança frequente. No caso do vestibular, você tem que estudar para uma única prova, sem um conteúdo bem especificado, uma vez, mas você não está preparado para isso, porque você não foi preparado para isso. Se essa for a questão, você pode se organizar de forma sistemática e montar uma rotina de estudos, um cronograma mesmo e tentar segui-lo ao máximo. Para mais detalhes de como montar essa rotina, clique aqui (http://harmoniepsi.blogspot.com.br/2016/03/confusoes-de-um-pre-vestibulandoii.html)
Bom, por hoje é só. Espero que o artigo tenha ajudado, BOA SORTE e até a próxima.
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Sobre a autora: Rebeca Porto é Psicóloga e atende na Harmonie Espaço Psicoterapêutico. É mestranda em Psicologia pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, membro do Grupo de Pesquisa em Psicometria e Psicologia do Esporte (GEPPE)  e apaixonada pela profissão. 
Contato: rebeca.c.porto@hotmail.com

segunda-feira, 21 de março de 2016

SE VOCÊ NÃO SE SENTE BEM EM UMA RELAÇÃO VOCÊ PODE ESTAR PRESA (O) EM UMA ARMADILHA: NOTAS SOBRE UMA RELAÇÃO ABUSIVA


Por Rebeca Porto

Em celebração ao dia internacional das mulheres, fui convidada para participar de uma roda de conversa sobre relações abusivas, na Universidade de Pernambuco- Petrolina. Esse texto é uma síntese do que foi debatido. O objetivo da publicação dele é, em primeiro lugar, trazer uma reflexão sobre as relações, principalmente as relações abusivas. Em segundo lugar, trazer um pouco, muito pouco, de como o psicólogo pode ajudar uma pessoa a sair de uma relação abusiva. Muito pouco, visto que a atuação do psicólogo é altamente complexa e cada relação é uma relação, cada caso é um caso.
Para tentar cumprir esses objetivos, os questionamentos estão divididos em três tópicos: Definição de uma relação abusiva; Como começa e como se perpetua uma relação abusiva; como um Psicólogo pode ajudar uma pessoa a sair de uma relação abusiva.
Então, vamos nessa...
1ª O que é uma relação abusiva?
Antes de definir uma relação abusiva, acredito que se faz necessário definir o que seja uma relação. Parafraseando Pedrinho Guareschi, relação é aquela coisa que todo mundo sabe exemplificar, mas ninguém sabe definir. Pois bem, em 1996 o autor definiu relação como uma coisa, que não pode existir sem que haja outra coisa (Guareschi, 1996). Por exemplo, uma mãe só existe se há um filho e vice-versa, constituindo-se assim, uma relação parental. Uma namorada/esposa só existe a partir do momento em que há um namorado/esposo e vice-versa.
Existes diversos modos de se relacionar, sendo que estas relações podem ser simétricas, assimétricas ou ajustáveis (simétricas e assimétricas). Simetria tem a ver com regularidade, ou seja, em uma relação simétrica os relacionados vivem em pé de igualdade de direitos. Por exemplo, em uma sociedade empresarial, os sócios tendem a ter os mesmos direitos, nenhum deles manda no outro. Já em uma relação assimétrica, uma das partes estabelece uma relação de poder com outra, na qual uma manda e a outra obedece, a exemplo da relação patrão-empregado. Na relação ajustável há um deslocamento simétrico, ora ela é simétrica, ora ela é assimétrica. Não no sentido de uma pessoa mandar na outra, mas no sentido de “ceder” em algumas questões, em alguns momentos. E em se tratando de uma relação amorosa, é quando a relação se torna apenas assimétrica que o abuso pode ser constatado.
2ª Como começa e como se perpetua uma relação abusiva?
Seria muito irresponsável afirmar que uma relação se tornou abusiva neste ou naquele momento, até mesmo porque cada caso é um caso, cada relação é uma relação. Uma relação não começa a ser abusiva da noite para o dia; há elementos na relação que a vão tornando abusiva, de forma muito sutil, tão sutil que, em muitas vezes os pares não se percebem em uma relação abusiva. Nesse sentido, então como identificar que uma relação é abusiva? Isso não é nem um pouco simples, principalmente se ela for uma forma de abuso muito sutil, mas se você não está se sentindo bem na relação, é possível que ela esteja sendo, de alguma forma, abusiva.
3°ª Como o Psicólogo pode ajudar a mulher sair de uma relação abusiva?
Em primeiro lugar, nem toda mulher/homem que vive em uma relação abusiva sabe disso. Muitas vezes chegam a clínica com outras queixas, mas o psicólogo entende que aquela pode ser uma situação de abuso. Sendo assim, o primeiro passo é ensinar a essa pessoa a identificar a situação de abuso. Mas não vá pensando que o psicólogo vai chegar e falar: “Ei Maria, isso é uma relação abusiva...”. Muito provavelmente a queixa será entorno desse abuso, então o profissional ajudará a cliente identificar, dentro da sua queixa, esse abuso. Entendida a relação, o abuso e as consequências que mantem essa relação abusiva, o psicólogo poderá “ensinar” a esse cliente a identificar o que tem mantido essa relação abusiva, bem como “ensiná-la” uma nova forma de se relacionar, criando juntos, terapeuta e cliente, estratégias para melhor a qualidade de vida do cliente.
Concluindo, as relações em si, estendendo-se as relações abusivas, são fenômenos altamente complexos, que não são possíveis de serem desvelados em um post ou em uma roda de conversa. No entanto, espero que essa leitura sirva ao menos como um norte para que novas discussões acerca dessa temática sejam levantadas, e principalmente que nós aprendamos a avaliar nossas relações diárias, revendo nossas relações abusivas e qual nosso papel nessas relações.
REFERÊNCIA
Guareschi, P. A. (1996). Relações comunitárias–relações de dominação. Psicologia Social Comunitária: da solidariedade à autonomia, 7.

Sobre a autora: Rebeca Cruz Porto é  Psicóloga (CRP: 02/18624) e atende na Harmonie Espaço Psicoterapêutico. É mestranda em Psicologia pela Universidade Federal do Vale do São Francisco e membro do Grupo de Pesquisa em Psicometria e Psicologia do Esporte. 
Contato: rebeca.c.porto@hotmail.com

quinta-feira, 10 de março de 2016

Confusões de um pré-vestibulando II – Montando uma rotina de estudos

Por Rebeca Porto
Se você é um pré-vestibulando, assim como Pedro, concurseiro, ou penas tem enfrentado dificuldades para se organizar e começar a estudar, seja bem-vindo, você está no lugar certo.
Em nosso primeiro artigo da série “Confusões de um pré-vestibulando” nós falamos sobre alguns ingredientes secretos, aliados dos estudantes. Não sabe do que estamos falando? Então clique aqui: http://harmoniepsi.blogspot.com.br/2016/02/confusoes-de-um-pre-vestibulando.html
Hoje, vamos falar um pouquinho sobre como montar uma rotina, de forma que, os ingredientes possam funcionar da forma mais eficaz possível. Essa angustia de Pedro é muito pertinente, realmente, não faz o mínimo sentido uma pessoa que não estuda nem meia hora por dia, passar a estudar 8 horas de repente. Mas isso também não quer dizer que seja impossível que em algum tempo e com certo grau de disciplina, você não consiga. Se imagine começando na academia... -você já começa levantando 100 kg? –Não...  É preciso disciplina e paciência, o mesmo vale para os estudos. Mas ai você se pergunta: Mas por onde eu começo?
Bom, se você leu o primeiro artigo da nossa série e já conseguiu extrair os ingredientes secretos, você já começou! Agora, para montar a sua rotina, vá lá no seu caderninho e visite suas anotações, como é que você se sente durante o passar do dia? Quando você estuda, a que horas você costuma estudar? Onde geralmente você estuda? Quais são seus maiores distratores? O grande segredo aqui é você saber que não existe receita pronta na hora de montar uma rotina de estudos. O que serve para uma menina que estudava 14 horas por dia, não necessariamente servirá para você. Mas nós podemos fornecer algumas dicas que te ajudarão a “se encontrar” nos estudos.
DICAS:
1ª) Estipule uma meta possível. Se você geralmente separa trinta minutos do seu dia para estudar, comece a aumentar esse tempo de forma gradativa. Por exemplo, estabeleça como meta, estudar pelo menos 40 minutos por dia, durante essa semana. E uma dica para conseguir cumprir essa meta é separar uma quantidade de material que vá ocupar esse tempo. Se logo nos primeiros dias você nota que 40 minutos não é nenhum sacrifício, que é super tranquilo, você pode aumentar um pouquinho esse tempo. E vá aumento ele sempre gradativamente.
2ª) Tenha todo o material necessário para o estudo, mas separe-o por prioridade, em pequenas “porções”. Se você junta aqueles módulos enormes encima da mesa, bate logo o desespero e aumenta a chance de você fugir. Mas se você os organiza em um armário, por exemplo, e vai pegando aos poucos, apenas o que você vai usar naquele momento, seu cérebro processa que aquilo é uma quantidade adequada de conteúdo.
3ª) Procure um lugar tranquilo e agradável para estudar, mas muito CUIDADO. Esse lugar tranquilo e agradável não pode ser um ambiente propício ao sono. De preferência, um lugar que seja longe da cama ou sofá para você não cair na tentação de dormir. Uma ótima dica é começar a frequentar uma biblioteca, seja da escola, da cidade ou qualquer outro espaço tranquilo. Caso opte por estudar em casa mesmo, peça para que as pessoas evitem “puxar” papo com você. Fique longe também do telefone, celular e deixe o computador para casos em que ele seja indispensável, pois assim, a probabilidade de você cair na tentação de conversar com os amigos e fugir do foco diminui. Lembre-se, a melhor forma de manter o autocontrole é fugindo das tentações.
4ª) Reserve na sua rotina um tempinho para relaxar, fazer um lanchinho, ir ao banheiro... Não adianta você querer estudar quatro horas seguidas, sem intervalo... seu corpo e seu cérebro precisam de um descanso e um tempo para processar as informações captadas. Se dê um descanso de 5 minutos a cada 50 minutos. Evite nesse tempo assistir televisão ou acessar as redes sociais, pois isso certamente vai lhe prender por mais tempo que o desejado e pode te distrair além da conta.
5ª) Monitore a sua relação com o estudo, em qual horário você rende mais, qual horário rende menos, em qual horário você se sente mais cansado, mais tentado a acessar as redes sociais, jogar videogame... Não adianta você ficar tentando lutar com vontade de fazer as coisas que são costumeiras. Primeiro tente “encaixar” tudo na sua rotina, reservando as horas em que você nota que são mais rentáveis e aos poucos vá reduzindo o tempo das outras tarefas e aumentando o tempo de estudos. É importante também que você se organize para estudar sempre em um mesmo horário, pois assim seu corpo se acostuma com a rotina.
Bem, esperamos ter ajudado a você, Pedro, e a todos vocês que estão passando por situação semelhante. Caso você sinta que está se esforçando ao máximo e mesmo assim não tem conseguido obter êxito, talvez esteja na hora de procurar uma ajudinha! O Psicólogo é um profissional capacitado que pode te ajudar a encontrar a “fonte do problema” e transformá-la em “fonte de solução”, não tenha medo de procura-lo.
No próximo texto vamos explorar um pouco a escolha profissional e como descobrir o que você quer ser quando crescer! Não percam! Fiquem de olho!
Abraços e até a próxima!

Sobre a autora: Rebeca Porto é Psicóloga e atende na Harmonie Espaço Psicoterapêutico. É mestranda em Psicologia pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, membro do Grupo de Pesquisa em Psicometria e Psicologia do Esporte (GEPPE)  e apaixonada pela profissão. 
Contato: rebeca.c.porto@hotmail.com