Por Rebeca Porto
Há
alguns anos um “novo” fenômeno tem se tornado evidente na mídia e vem sendo
discutido cada vez mais, principalmente nas escolas, o BULLYNG.
O
BULLYNG é uma palavra do dicionário
inglês, sem tradução literal para o português, mas que é utilizada para definir
um conjunto de comportamentos agressivos.
Eu
tenho escutado com muita frequência, principalmente de pessoas mais velhas, da
geração da minha mãe (que hoje tem 44 anos, com rostinho de 30 rsrs) e até da
minha geração, com 20 e poucos anos, que esse negócio de Bullyng é frescura: -“no meu
tempo, eu apanhava, eu batia e não tinha nada disso, esses meninos de hoje são
muito é fresco”. Mas será que é frescura mesmo? O que mudou nestes anos?
Primeiro,
NÃO. Bulling
não é frescura, Bullyng não é brincadeira, Bullyng é coisa SÉRIA, muito SÉRIA,
diga-se de passagem. Então, o que mudou? Será que mudou?
Como
eu coloquei acima, o Bullyng é um fenômeno “novo”, notem que coloquei o novo
entre aspas. Usei as aspas porque ele é um fenômeno novo no sentido de ser
estudado e receber um nome próprio, que defina um conjunto de comportamentos
agressivos. Na verdade, a agressão na escola acontece há muito tempo, mas
apenas passou a ser estudado, quando se evidenciou uma relação entre agressões
escolares com diversas consequências negativas para crianças e adolescentes.
A
principal característica do Bulling é
que ele é uma manifestação agressiva repetida, de um agressor em direção a uma
mesma vítima, ou seja, uma criança que de repente bateu no colega, por exemplo,
não está praticando o Bullyng, se
esse ato não se repete por diversas vezes (isso não quer dizer que não seja
errado, nem que o fato não deva ser investigado e punido). Outra característica
é que a sua prática é mais comum nas escolas, por ser o local onde a criança/
adolescente passa maior parte do tempo em companhia de outras
crianças/adolescentes. O Bullyng pode
ser dividido em 4 categorias:
Mas por que as pessoas praticam
Bullyng?
As
pesquisas sobre o assunto apontam diversos fatores, entre eles estão:
Ø Sofrer violência em outras esferas:
A relação entre vítima e agressor, no Bullyng,
é claramente uma relação de poder. Nesse sentido, o “mais poderoso” pratica o Bullyng contra o mais frágil e que não
pode ou não consegue se defender. Esta relação de poder provavelmente está
sendo repetida em outras esferas, principalmente em casa, onde essa criança/adolescente
que se comporta de forma agressiva na escola é uma figura frágil em casa. Ele(a)
pode estar sendo vítima de agressões físicas ou verbais em casa, pelos pais,
irmãos, ou outras figuras de “poder”, e tenta, na escola, “descontar” a
agressão que sofre.
Ø Sofrer Bullyng:
Como coloquei acima, o Bullyng é uma
relação de poder, e a lógica aqui é a mesma, aquela criança ou adolescente que
sofre o Bullyng, em muitos casos
procura uma vítima para descontar a agressão que sofre e sentir que também é
“poderoso”.
Ø Falta de empatia:
Empatia é capacidade de uma pessoa de se colocar no lugar na outra e sentir
como a outra se sente, é basicamente pensar e sentir em como você estaria se
estivesse no lugar daquela pessoa, naquela situação. No caso de pessoas que
praticam Bullyng podemos notar
claramente a falta desta capacidade, afinal, se ela conseguisse se colocar no
lugar da outra criança/adolescente, não faria aquilo. Aí você se pergunta: “mas se é provável que ele também sofra algum
tipo de violência como é que ele não consegue imaginar como o outro está se
sentindo?”. Ótima pergunta J! O que acontece é que empatia é diferente
de você simplesmente saber o que outro está sentindo ou até já ter sentido. Na
empatia, você sente, naquela situação, a mesma coisa que a pessoa está
sentindo. É um pouco complicado, mas esse vídeo aqui pode te ajudar a entender
a diferença entre saber como o outro está se sentindo e realmente sentir a
“dor” do outro (https://www.youtube.com/watch?v=aPs6q5vqnFs).
Ø Imitação:
A criança pode simplesmente presenciar cenas de violência/agressão e querer
imitar o agressor. Mas ATENÇÃO, a criança não sai por aí imitando qualquer
coisa de qualquer pessoa. Ela imita apenas comportamentos que são de alguma
forma aprovado por alguém (mesmo que esse comportamento não seja aprovado
socialmente, mas para uma figura importante à criança), e esse alguém também
deve ser alguém que serve de modelo/espelho para a criança, ou seja, ela imita
alguém a quem admira, fazendo algo em que se deu/dá bem. Por exemplo, ela pode
ver o irmão batendo em algum colega mais fraco e assim, tendo o respeito dos
colegas, ou ainda presenciar o pai agredindo a mãe, irmão, dessa forma
conseguindo a obediência e “respeito” de todos na família.
O
Bullyng traz consequências seríssimas
não apenas para as vítimas, mas também quem pratica e para que apenas o
presencia. Falar sobre essas consequências é muitíssimo importante, principalmente,
porque na maioria dos casos, as vítimas se calam e tanto a escola quanto os
pais/cuidadores só poderão identifica-lo a partir do momento em que notar estas
consequências:
CONSEQUÊNCIAS do Bullyng:
É importante salientar aqui que cada
pessoa vai se comportar de uma forma diferente. Estas são as consequências mais
comuns e nem todos vão apresentar todas elas, apenas algumas, e em diferentes
graus. No entanto, é importante que pais e professores fiquem atentos a essa
questão e aos comportamentos das crianças e dos adolescentes, buscando sempre
investigar quando algo estiver diferente do “normal”.
Aos pais, nossa dica é que tentem ao
máximo estabelecer uma relação afetiva sólida com seus filhos, baseada na
confiança, os instruindo sempre a cotar quando algo não estiver legal (e o que
está legal também). E dar sempre atenção ao que eles compartilham, mesmo que
vocês não considerem assim tão importante, caso contrário, quando acontecer
algo realmente relevante, eles podem não querer dividir com vocês por sentir que
não vão ser levados a sério, ou que vocês não se importam, ou que vão, de algum
modo, incomodá-los. Também é importante que vocês ensinem aos filhos o respeito
ao próximo, principalmente por meio do exemplo, afinal, os maiores modelos das
crianças são os pais.
À escola, é importante a importante que
esteja atenta as formas de relação de poder estabelecida hierarquicamente
(direção/gestão/coordenação/pais/professores/funcionários em geral/alunos), para
que esta não seja vista pelos alunos como uma relação de “manda quem pode e
obedece quem tem juízo” e sim, como uma relação de respeito. Cabe a escola
também elaborar e executar projetos que alertem sobre o Bullyng, suas consequências e estabelecer uma relação de confiança
com os alunos, para estes denuncie o fato quando e se ocorrer. Por fim, TODOS
na escola, devem conhecer o fenômeno e ser capaz de identifica-lo, para que quando
a própria vítima não se manifestar, alguém note o que está acontecendo e possa acolhê-la.
Por fim, em casos extremos, em que a
vítima, o (a) agressor (a) ou até mesmo o expectador apresente aqueles sintomas
listados nas consequências, de forma intensa e que isso esteja afetando a vida
dele(a), é necessário que a ajuda profissional seja acionada, no caso, um
Psicólogo. Nestes casos, o profissional irá
intervir de acordo com as consequências e o modo como elas têm afetado a vida
da criança/adolescente e ainda se ela é o agressor a vítima ou apenas um
expectador. Em alguns casos, é importante que os pais/cuidadores também procure
por ajuda (orientação para pais) para saber de que forma pode ajudar o filho (a)
e como lidar com a situação atual, sem ser invasivo ou negligente.
Ainda é válido salientar que alguns
adultos ainda apresentam sequelas do Bullyng
sofrido na infância, no entanto não relacionam os problemas atuais aos antigos.
Alguns dos problemas mais comuns enfrentados por estas pessoas é a dificuldade em
fazer novas amizades ou mantê-las, dificuldade em entrar em um relacionamento
amoroso (por causa da dificuldade de socializar), agressividade, ansiedade, depressão,
dentre outros. Se for seu caso, procure um Psicólogo. Nós podemos ajuda-los a
lidar com estes problemas, desenvolvendo estratégias para enfrenta-los,
superá-los e seguir adiante.
Bom, por hoje é só. Espero que o artigo
tenha ajudado a esclarecer as dúvidas sobre o Bullyng. Se ainda tiver alguma dúvida, entre em contato conosco!
Obrigado pela atenção até a próxima.
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Sobre a autora: Rebeca Porto é Psicóloga e
atende na Harmonie Espaço Psicoterapêutico. É mestranda em Psicologia pela
Universidade Federal do Vale do São Francisco, membro do Grupo de Pesquisa em
Psicometria e Psicologia do Esporte (GEPPE).
Contato: rebeca.c.porto@hotmail.com